A Chegada de Dilma no Inferno


Autor: Edigles Guedes

Longe um capeta avistou
Um tribufu de mulher,
Com sua cabeleira curta,
Faca torta sem colher,
Boca troncha de calango,
Dentes pretos a tolher.

Quando viu aquela criatura,
O capeta bateu pernas,
De Saturno até Netuno.
As calças caíam nas cavernas,
Medonhas e tenebrosas.
Caçava as portas externas.

Subia a cueca cor vermelha.
Eis depressa disparava.
Defronte daquele troço,
O diabo se resignava:
— Deus, que pecado cometi,
Pra que assim me castigava?


Quando o capeta, já aflito,
Esbarrou com as muralhas
Dos cafundós do Seu Judas,
Gritou: — Peguem as suas tralhas:
Espada, escudo, tição,
Que a nós tudo nos valha!

Vem aí um alguém que afundou
Toda uma nação de cão.
Vira-latas sem ração
Vi morrer de inanição.
Com tal de Bolsa Família,
Fez maior esculhambação.

Que peninha do capeta,
Que tem de aturar aquilo!
Corre gente que a ladrona
No inferno chegou sem quilos!
Sua gordura foi queimada
Nas pedaladas de grilo.

As tais pedaladas fiscais
Fizeram nossa história.
Quem surrupia dos banqueiros,
Para sua própria vitória;
Jamais será bom ladrão,
Porque é ladrão sem glória.

O porteiro, ao ver o vulto,
Quase que dá um piripaco.
— O diabo é quem é maluco!
Vou pegar fumo, tabaco,
Mala com alça e calçado.
Na mulher sacode um taco.

Acerta noutro chifrudo,
Que por ali vai passando.
— Cabra, que foi que te fiz?
— Corre! Está por cá chegando
A filha do Papangu,
Com o Canhim misturando.

O chifrudo, acre, dispara.
Mais veloz do que trovão,
O anjo decaído desfecha
Um tiro no seu pezão.
Eis que por correr, tropeça
Num Cão-Miúdo sem razão.

— Cabra, que foi que te fiz?
— Corre, Fulano, avexe-se!
Vem aí o cão sem rabo longo,
A rainha da injusta prece.
Na encruzilhada, à meia-noite,
A Princesa do refece,

A Duquesa bubônica,
Condessa sofreguidão.
Capaz de matar de fome
Qualquer um dos seus cristãos.
Pois bem, o que será de nós?
Coitados sem permissão

Para trancafiar as portas
Daquele horrífero inferno.
Pernas pegam carreirão.
O Cão-Miúdo, subalterno,
Quase vai lamber o chão.
Tomba com Lampião de terno.

— Cabra, que foi que te fiz?
— Arreda, Lampião! Chegou
Quem é maior do que você.
São Pedro do céu ablegou
A injuriada com palmada.
O chinelo lá vadiou.

Cuide-se, senão a peste
Te pega, te dando um jeito!
— E eu sou homem de pegar medo
De mulher? Eu sou sujeito,
Cabra macho duma peste.
Ponho a dita em bolso e leito.

Quando Lampião viu a trepeça,
Diz aos botões encardidos:
— O diabo é quem cuide dela;
Vou fugir desiludido!
Quem pariu Sinhô Mateus,
Que crie famoso bandido.

Lampião foi à locomotiva
Valente, vã, valorosa.
Daqui a pouco, ele esbarrou
Com o Hitler numa prosa.
O bigodinho cantante
Logo falava sem glosa:

— Cabra, que foi que te fiz?
Num alemão arrastado,
Grosso, rude grude no osso,
Que nem chinela em xaxado.
— Foge, cabra maloqueiro!
Já vem, aí, o dragão calado!

A besta-fera sulista,
Capaz de afundar o navio
Dum país até co’ olho só.
A Dilma reacendeu o pavio
Da corrupção sem medida,
Da pobreza sem alívio.


— Conversa da Carochinha!
Cê não ludibria alemão.
Quem já viu mulher cantar
Galo em terreiro de cão?
Eu vou mostrar à megera
O poder da minha mão!

Ao confrontar-se com ela,
Hitler perdeu cueca e pregas,
Quedou no mundo correndo.
— Diabo carregue a chumbrega!
Vou embora, antes que me coma.
Largou de sua cega-rega.

Ao cruzar uma montanha,
Topou com Mussolini.
Diz o calvo ditador:
— Cabra, que foi que te fiz?
— Corre, amigo, que já vem
A imagem do cão e nariz.

— Onde já se viu fuzuê
Como este? Que cambulhada!
— Avexa, Mussolini!
E cá não nos diga nada.
— Eu não fujo de mulher.
Vou lhe dar uma lapada.

O calvo pegou um tabique,
Fincou nas costas e disse:
— Hoje acabo co’ a serpente!
Assim que esbarrou, crendice
De destruir a bexiguenta
Caiu na cova carnífice. 

Mussolini, o bolo fofo,
Pediu auxílio dos céus.
Suplicou a Deus, grande e Santo,
Pra lhe ajudar, senão créu!
A onça de sua presidenta
Esbandalha-o aos boléus.

Não vendo sequer um anjo,
Por dentro daquele inferno,
Mussolini diz pra si:
— Pernas, pra que desgoverno?
Correu o mais que poderia;
Foi de eterno a sempiterno.

Tão depressa escafedeu,
Que bateu num Anhangá.
Por pouco, que atropelou.
Ele pronunciou na hora agá:
— Cabra, que foi que te fiz?
— Avexe! A velha gagá


Acaba de aqui chegar.
Vai colocar esse inferno
Abaixo, com forte sopro
De lobo mau pós-moderno.
— Vou dar notícia ao chefe
Sobre atos no flanco externo.

E pernas pra que te quero!
Chegando ao calabouço
De Lúcifer, festejava
O cabeça dos marouços
O aumento dos inquilinos,
Nos domínios dos pedrouços.

Esbaforido, Anhangá
Espichou sua tromba e disse:
— Chefe, já vem feiticeira
Que país levou à maluquice.
No governo conseguiu
Desempregar a burrice.

Satanás quase padece,
Com merencória notícia.
— Corre mais rápido, vá
Logo chamar a polícia!
Vão chutar desnaturada!
Expulsar essa patrícia!


Satanás convoca a todos:
Marinha, Exército forte
E Aeronáutica vogante.
Marcha a fileira sem corte,
Para enfrentar essa besta
Com sete bocas da morte.

O General Belzebu,
O mais afoito dos demos,
Com permissão de Satã,
Atirou trezentos remos
No cangote cru da Dilma.
Caíram no assoalho supremo.

Belzebu partiu pro braço.
Soco lá, soco pra cá.
Dilma acerta a focinheira.
Belzebu obra seu cacá.
Satanás, furioso, grita:
— Você não foge de acá! 

Chamou a Belial pra encarar
A Dilma, essa besta-fera.
Explodiu a bomba-atômica.
Abriu gigante cratera.
Todos pensavam que morria.
Suspiravam: — Ai! quem dera!


A monstra sobreviveu.
Mais terrível do que nunca,
A Dilma disse: — Eu acabo
De vez com essa espelunca!
O Satanás discordou,
Falou com cara de funca:

— Vou chamar Grã-Almirante
Baal para lhe bofetear!
Dar-lhe surra de cipó,
Daquelas sem alardear!
— Pode vir sujos mofinos,
Bato em cada um sem arear.

Baal, que tentou se esquivar,
Recebeu golpe certeiro
Na caixa enorme dos peitos.
Faltaram pulmões, banzeiro.
Estremeceu-se no assoalho.
Foi tomar banho de cheiro.

Satanás, pois, se esperneou.
— Donde veio aquela diaba?
Que bota inferno pra baixo,
Num sus de chapéu sem aba.
Ela é tampa sem panela,
Quase que o mundo se acaba.


Dilma, bastante valente,
Bate o pé no chão, pergunta:
— Cadê o diabo com coragem
De enfrentar luta conjunta.
Pele e cães, boto no bolso.
Ninguém separa, só ajunta!

Esbravejou o Satanás:
— Eta, cramulhão de peia!
Dessa vez você se estrepa!
Oh! como você me chateia!
Dessa vez você padece,
Mosca que queda na teia.  

Chamo o Marechal-do-ar,
Astarote é insigne nome,
Que abusa de vosmecê!
O bicho a tudo que come,
Arreganha sua bocarra.
O bicho é o nosso epítome!

Astarote se soltou,
Que nem cão brabo, nojento.
Urrando, uivando, raivando.
Raivejou dia purulento,
Com toda cólera grave,
Feito tufão no tormento.


Não foi longe baba raiva.
Um espeto pontiagudo
Varou pelo espaço afora.
E acertou nesse peitudo,
Rebentando coração.
Quedou ao chão, caiu com tudo.

Asmodeus desesperou-se.
Voou pelos ares acima.
Em sua covarde reação,
Caiu por cima da vítima.
A Dilma é mulher sagaz,
Alvejou-o com tira-teima.

Asmodeus caiu bem asinha.
Estrebuchou-se no chão.
Bradou pelos cães do inferno.
Foi grande a lamentação.
As lágrimas misturam-se
Com rio de sangue em montão.

Satanás, pois, aperreado,
Vocifera pra cambada:
— Vamos, gente, aparta e amarra,
Numa cambalhota dada!
Sacode essa marombeira!
Cão fica é na encruzilhada!

Toma chá de coragem,
Cada diabinho do inferno.
Todos, de cheio peito aberto,
Afrontar tormento eterno.
O Satanás se aperreia,
Com sua gravata sem terno.

Cafuçu, mui embravecido,
Esgoelou impropérios, risos:  
— Cachorra de meia tigela,
Vamos ver quem não dá aviso.
Não age com dura cautela;
Mas cumpre com improviso.

— Pode vir, cão! Pois eu bato
No peito e ponho no pé.
Faço de você uma bola
De futebol, Seu Mané!
Sapeco-lhe belo soco,
Sapeco-lhe pontapé!

Cafuçu, desassombrado,
Pegou da espada e partiu.
Dilma atirou uma pedrona,
Rachou-lhe o quengo e dormiu.
Estirado ao chão cálido,
Cafuçu soergueu-se e caiu.


Pedro-Botelho, que vendo
Seu irmão malmente ferido,
Grunhiu com muita cólera:
— Desprovida de marido,
Filha aguada de jumenta
Com o diabo dolorido!

Você tem que me pagar,
Desfazimento a meu irmão.
Não vou lhe deixar de graça.
Na luta, dou-lhe de mão;
Dou-lhe um solavanco certo;
Dou-lhe aperto em contramão.

A Dilma já revoltada,
Pôs língua pra fora e disse:
— Pode vir, cãozinho fino!
Largue dessa sua criancice!
Enfrente-me como macho,
Deixe fora sua denguice!

Com a cor de pimentão,
Saiu de lá Pedro-Botelho.
Bastou apenas uma pezada.
A Dilma trincou o seu joelho;
Atroz, destroçou sua artéria;
Cruel, despedaçou o artelho.


De Pedro-Botelho pouco
Sobrou pra contar história.
Dilma espezinhou a vítima.
Grunhiu alto o que tanto queria:
— Pode vir, cambada frouxa!
Eu arrebento por teimosia!

Tinhoso desferiu um murro.
Acertou o ventre do vento,
Passou raspando por Dilma.
Era demasiado lento.
Ele apanhou de chicote,
Levou uma surra a contento.

Pé-Cascudo… um pontapé
Desferiu nos setenta ares.
Não golpeou a bruxa Dilma.
Pranteou amargos hectares.
Voou por cima da batalha,
Até que quedou na gare.

Pé de Cabra soltou um soco
De arrebentar quarteirão;
Sequer feriu a cuca Dilma.
O coitado beijou o chão.
Quebrou a cara, a casa e quartos;
Chorou que nem meninão.


Satanás se desgostou
Da situação inusitada.
— Eu jamais perco a batalha!
Dou um boi para essa cocada,
Boiada cá para não sair.
Vou resolver a parada.

Com sua matilha de cães,
O Satã camuflou o chão.
Com um tapete cobriu
Um fosso bem gigantão.
A Dilma caiu na armadilha,
Foi parar no Brasilzão.
  
Daí, o povo dessa nação
Sofre com grande carestia
Da conta da gasolina,
Da conta d’ água e de energia.
Passagem da lotação
Custa o olho da cara por dia.

Eis que vai subir o preço
Do arroz, do sal, do feijão,
Dessa farinha de trigo,
Do bujão e até do pão
Nosso de cada santo dia.
Quanta carestia, povão!

— FIM —


Salgueiro, 29/1/2016.

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